segunda-feira, 26 de março de 2012

O Domador

Contribuição de Aragão Castro

Um ermitão, uma daquelas pessoas que por amor a Deus se refugiam na solidão do deserto, do bosque ou das montanhas para se dedicarem somente à oração e penitência, muitas vezes reclamava que tinha muito o que fazer.

Perguntaram-lhe como era possível que em sua solidão tivesse tanto trabalho.

– Tenho que domar dois falcões, treinar duas águias, manter quietos dois coelhos, vigiar uma serpente, carregar um burro e sujeitar um leão.

– Não vemos nenhum animal perto deste local onde vives. Aonde estão esses animais que mencionastes?

O ermitão explicou: - estes animais todos os humanos têm, vocês também...

– Os dois falcões se lançam sobre tudo o que aparece, seja bom ou mau. Tenho que domá-los para que só se fixem sobre o que for bom: são os meus dois olhos.

– As duas águias ferem e destroçam com suas garras. Tenho que treiná-las para que sejam úteis e ajudem sem ferir: são minhas duas mãos.

– Os dois coelhos querem ir onde lhes agrada, fugindo dos demais e esquivando-se das dificuldades. Tenho que lhes ensinar a ficarem quietos, mesmo que seja penoso, problemático ou desagradável: são os meus dois pés.

– O mais difícil é vigiar a serpente, apesar dela estar presa numa jaula de 32 barras. Está sempre pronta para morder e envenenar os que a rodeiam, mal se abra a jaula. Se não a vigio de perto, causa danos: é a minha língua.

– O burro é muito obstinado, não quer cumprir com suas obrigações. Alega estar cansado e se recusa a transportar a carga de cada dia: é o meu corpo.

– Finalmente, preciso domar um leão. Quer ser o rei, o mais importante; é vaidoso e orgulhoso: é o meu coração.

Portanto, há muito o que fazer.

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